Trabalhar fora do país ‘não era o foco’, diz brasileira que fez carreira em 6 países e virou CEO no Chile

Na série ‘Trabalhar no exterior’, o Guia de Carreiras do G1 entrevista brasileiros que fizeram a graduação no país, mas hoje seguem carreira pelo mundo. Conheça a história da administradora de empresas Patrícia Capel, que já morou em seis países de três continentes diferentes desde 2004.A administradora de empresas Patrícia Capel, de 46 anos, não pode dizer que trocou de emprego várias vezes, mas ela está há tanto tempo trabalhando na mesma empresa que já mudou de cargo – e país – em diversas ocasiões. Desde a graduação na FEA-USP até os cargos no exterior, Patrícia aprendeu a ponderar cada passo e o momento certo de investir na carreira e na formação.

(Patrícia é a segunda entrevistada na série “Trabalhar no exterior”, do Guia de Carreiras do G1, que mostra a trajetória e as dicas de quem fez a graduação no Brasil e hoje seguem carreira de sucesso no exterior.)

Casada com um francês que a acompanha pelo mundo em cada transferência internacional a trabalho, Patrícia teve o primeiro filho na Rússia e o segundo nos Estados Unidos. Desde setembro, a família se mudou para a América Latina, onde ela é atualmente a CEO para Chile, Bolívia e Paraguai da AB Inbev, conhecida no Brasil como Ambev.

Em 1996, quando Patrícia ingressou na empresa, ela ainda se chamava Companhia Cervejaria Brahma. Hoje, o ramo continua o mesmo – é uma cervejaria –, mas o nome oficial mudou depois de uma série de fusões.

Naquela época, ela tinha apenas três anos de formada, depois de conseguir o diploma da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Já tinha passado por duas grandes multinacionais antes da cervejaria, mas não pensava especificamente em buscar uma carreira no exterior.

“Eu sempre quis ter uma carreira bacana, trabalhar num lugar onde eu pudesse crescer, aprender. Quando comecei a minha carreira, pra mim, morar fora não era o objetivo principal, mas não era uma barreira”, explicou ela ao G1, por telefone, desde Santiago do Chile.

“Pensava assim: se morar fora significar crescimento de carreira, uma experiência bacana, eu topo. O fato de que eu gostava muito de viajar ajudava, mas tem que ter um sentido.” – Patrícia Capel

Patrícia durante visita à cervejaria da Ambev na Bolívia — Foto: Arquivo pessoal/Patrícia Capel

São Paulo – Lages – Canadá

Antes de se mudar pela primeira vez a trabalho, a paulistana Patrícia só havia morado fora de São Paulo uma vez, quando criança, quando passou alguns anos em Campinas.

Mas ela não negou a oportunidade quando a Ambev decidiu enviá-la para Lages, em Santa Catarina, onde ela exerceria o cargo de gerente da fábrica local da empresa. Segundo ela, a ideia era ganhar experiência em uma área de atuação voltada à parte “interna” da empresa, já que antes, nos setores de relações com investidores e tesouraria, ela se dedicava mais para observar o mercado.

Do Sul do Brasil, Patrícia logo foi enviada à América do Norte para coordenar, no Canadá, uma das frentes financeiras da integração entre a Ambev e a Interbrew. Desde essa mudança para fora do Brasil, em 2004, ela nunca mais voltou a morar no Brasil, mas visita o país pelo menos uma vez por ano.

Patrícia com o primeiro filho, que nasceu em Moscou, no jardim do condomínio em que moraram na Rússia — Foto: Arquivo pessoal/Patrícia Capel

A carreira e a vida pessoal

Do Canadá, a administradora foi transferida para Bruxelas, Moscou, Nova York, Londres e, agora, Santiago do Chile. Porém, ela afirma que só topou todas as oportunidades de mudança depois de ponderar se aquele passo fazia sentido para suas ambições pessoais.

“O mais importante para mim era ter uma carreira de sucesso em uma grande empresa”, explicou ela. Por isso, assumir cargos em outros países aconteceu como “continuidade” do trabalho que ela fez no Brasil.

De acordo com Patrícia, as mudanças eram menos complexas quando ela ainda não tinha uma família. “Eu fiz muitos movimentos ainda solteira”, conta ela. “Hoje, a minha vinda para o Chile veio com uma logística mais complicada. Tem que ver vaga na escola, as aulas começam no meio do ano…”

Por isso, a principal dica dela para quem quer seguir um caminho parecido na carreira e também quer ter filhos é procurar fazer essas movimentações antes de expandir a família.

“A pessoa precisa estar alinhada com a cultura da empresa, buscar crescer por meio do mérito, entregar os resultados. Tem que sempre fazer o melhor de si, aceitar os desafios, e sempre ter alguma ponderação se o próximo passo faz sentido.”

Esse equilíbrio, segundo ela, é o que garante que o desempenho no trabalho vai continuar alto. “Você tem que sempre estar feliz. Tem que ponderar para que tenha paz de espírito para fazer um trabalho bacana.”

No segundo semestre de 2018, Patrícia, em foto em Santiago do Chile, assumiu o cargo de CEO da Ambev no Chile, Bolívia e Paraguai — Foto: Arquivo pessoal/Patrícia Capel

Diversidade

Nova York foi a cidade onde ela passou mais tempo nos últimos 14 anos. Ela ficou seis anos lá. Depois de aceitar passar uma curta temporada em Londres, ela se mudou para o Chile com a intenção de também “sossegar” durante vários anos, enquanto os filhos crescem.

É a primeira vez que os dois vivem em um país que não é anglófono e, apesar de estudarem em uma escola internacional, eles agora aprendem o espanhol. Em casa, porém, só falam português com a mãe, e praticam francês com o pai, que tem o próprio negócio e pode trabalhar a distância, onde a família estiver.

Apesar da saudade dos amigos de longa data e do pão de queijo – primeiro item que ela compra no Aeroporto Internacional de Guarulhos, sempre que aterrissa no Brasil – Patrícia diz que ver os filhos crescerem em torno de uma grande diversidade de culturas é a melhor parte de sua carreira no exterior.

“Eles têm amiguinhos da Coreia, outro do Canadá. Não tem discriminação. As crianças aprendem que os amigos vêm de vários lugares, têm várias cores, isso é muito legal. É aquela parte de não ter preço.”

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